Posição do DQB da FCUP sobre a Química no Ensino Secundário

Posição do Departamento de Química e Bioquímica da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto sobre a Química no Ensino Secundário

1 - Registamos com grande apreensão a forma como o ministério da educação tem vindo a tratar o ensino da química. A Química é uma ciência central cuja importância para o desenvolvimento cognitivo dos alunos e para a sustentação científica e tecnológica da nossa sociedade dispensa argumentação. Tornar o ensino da química tão opcional, tão diminuído na sua carga letiva e tão desprotegido é contribuir para um enfraquecimento da formação científica dos nossos alunos e para uma hipoteca do desenvolvimento científico e sistémico do nosso país.

2 - O sistema atual de acesso ao ensino superior, as condições frágeis de natureza laboratorial, a (curta) carga horária e a organização curricular não ajudam o ensino experimental, incontornável na ciência química.

3 - Lamentamos profundamente a ausência em tempo útil de diretrizes mais específicas para as escolas e para os professores sobre o funcionamento do 12° ano de Química no ensino secundário.

4 - Além do corte de carga letiva nesta importante disciplina, acrescenta-se alguma dispersão para a adaptação necessária nas escolas. Esta situação manifesta uma total falta de apoio ministerial face à formação científica em geral e ao desenvolvimento da educação química, em particular. Há falta de consideração relativamente aos professores e às escolas, que apreciam autonomia quando devidamente balizada, mas dispensam o livre arbítrio quase silencioso do ministério.

5 - Recomendamos às escolas que, à falta de regras ou sugestões metodológicas mais pormenorizadas, adaptem as horas e os tempos letivos à sua realidade, no sentido de promover da melhor forma o competente e motivante ensino da química no 12° ano. Provavelmente, pode ser indicado manter os três grandes capítulos do programa (para que não se perca o espírito global), encurtando alguns desenvolvimentos menos relevantes. Mas os conceitos mais estruturantes estão nas unidades 1 e 2, pelo que a abordagem mínima poderia contemplar apenas estas duas primeiras unidades.

6 - Acresce ainda que, infelizmente, há algumas escolas com poucos alunos candidatos a frequentar química no 12° ano e existem diretrizes para não constituir turmas com menos de 20 alunos candidatos. Mais um revés de impossibilidades para alguns alunos que queiram ter química no 12° ano...

7 - Seria porventura melhor que os exames nacionais não fossem no final do 11° ano mas sim no final do 12° ano. Desta forma, mais alunos de ciências teriam uma formação coerente ao longo dos três anos no ensino secundário e mais alunos, para o bem de todos, teriam química no 12° ano. A química do 12° ano tem pouca adesão e corre risco de esterilidade por não estar sujeita a exames nacionais.

8 - Os programas curriculares de química precisavam de ser reformulados, nomeadamente recentrando-os em conceitos estruturantes (mais do que em contextos) e removendo-lhes alguma dispersão, alguns vazios e alguma amplitude (em muitos casos a extensão demasiada prejudica a qualidade das abordagens).

9 - Seria interessante, do 7° ao 12° anos, apesar das circunstâncias, não abrandar e muito menos abandonar a prática laboratorial, de estrutura e importância tão capitais no ensino da química.

10 - Em alguns países europeus, mormente nos mais desenvolvidos, a química ocupa um papel central, privilegiado e denso nos curricula da formação secundária.

11 - No que diz respeito à química, esperamos que o Ministério da Educação tome nota desta situação e proceda a alterações que transformem o discurso da apologia de uma formação sólida, coerente e exigente, numa mensagem com sintonia entre os ideais apregoados e a prática.

12 - Queremos motivar e mostrar aos jovens o fascínio, a importância, a utilidade, o presente e o futuro da química. Continuaremos e promoveremos o nosso trabalho, faremos a nossa parte. A química merece !

Departamento de Química e Bioquímica, Porto, 18 de Setembro de 2012

Publicado/editado: 23/09/2012