Nobel da Química lança alerta contra a ruína da Ciência

Apesar de os cursos de Química e Física permitirem empregos com remuneração muito superior a cursos de outras áreas, o número de estudantes destas disciplinas está em declínio no Reino Unido.

Harry Kroto (Nobel da Química em 1996) publicou no jornal The Guardian um alerta contra a “ruína da ciência no Reino Unido” – mas que se aplica naturalmente a um grande número de países europeus, Portugal incluído.

O principal alerta vai para a ausência de políticas que contrariem o evidente declínio do número de estudantes de ciências nas escolas secundárias e nas universidades.

Segundo Harry Kroto, esta atitude de “laisser faire” levou a que haja actualmente mais alunos a estudar disciplinas de comunicação e média do que a estudar física. Um contra-senso “num mundo que é economicamente, socialmente e culturalmente dependente da ciência”, não só ciência eficaz mas sobretudo “ciência aplicada de forma sensata”.

Harry Kroto apresenta duas razões para que o interesse pela ciência seja estimulado nos jovens: uma razão do interesse colectivo e uma razão de interesse pessoal.

É do interesse colectivo da sociedade que além de um grande número de cientistas e engenheiros competentes, a população geral tenha boa educação científica, de forma a ser capaz de pensar racionalmente e tomar decisões informadas – e isto inclui “advogados, homens de negócios, agricultores, políticos, jornalistas e atletas”

As razões pessoais para escolher uma formação científica são avassaladoras: um estudo conjunto da Royal Society of Chemistry / Institute of Physics (2004) revelou que os detentores de um curso de Química ou Física, durante os seus 15-20 anos de maior produtividade profissional, ganham anualmente mais 22.000 Euros (15.000 libras) do que os graduados em muitas outras áreas. H. Kroto censura o Governo britânico por, em nome da liberdade de escolha, se recusar a intervir num sistema em que os jovens preferem cursos de psicologia, linguística, história, comunicação e média – condenando-os assim a carreiras de empregos mal pagos e sem perspectivas, em áreas onde a oferta excede até 10 vezes a procura.

Ainda segundo H. Kroto, a prova do falência do actual sistema está no facto de muito poucos estarem verdadeiramente conscientes da importância que a ciência e a tecnologia têm na actual sociedade, da total dependência do nosso modo de vida em relação à ciência e tecnologia, ou mesmo da contribuição humanitária da ciência para a sociedade: desde as melhorias na saúde (no séc. XVIII, metade das crianças morriam antes dos 8 anos) até as tecnologias avançadas que já se integraram na nossa vida quotidiana (como os telemóveis ou a internet).

O texto completo deste artigo pode ser encontrado em
http://education.guardian.co.uk/universitiesincrisis/story/0,,2084784,00.html

O estudo RSC/IP (2004) está disponível em
http://www.rsc.org/images/EconomicBenefitsHigherEducationQualifications_tcm18-12647.pdf

PRC
(25-05-2007)



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Publicado/editado: 23/05/2007