Comentário à Prova Escrita de Física e Química A – 715/2ª Fase

A prova contém 3 tópicos (em 6) de Química (tópicos 1, 5 e 6) tendo, no total, 11 questões/subquestões das quais, 6 são de escolha múltipla.
A prova é menos extensa do que a prova anterior, na componente de Química, mas de maior dificuldade global.

A prova não contém erros grosseiros, tal como, aliás, deve ser a regra num exame nacional. No entanto, são notórias algumas incorrecções na apresentação dos problemas e na linguagem utilizada que, embora se considere que não prejudicam o desempenho do aluno médio, não podem deixar de ser criticadas. Estas incorrecções são particularmente prejudiciais a nível formativo, o que justifica a sua discussão em detalhe (ver abaixo apreciação detalhada das questões 1.3 e 14.).


Apreciação detalhada:

Relativamente à questão contextualizada (1), como de costume, apresenta uma alínea (1.1) que só testa a capacidade de leitura do aluno. Qualquer pessoa que não tenha estudado Química pode responder correctamente a esta questão.

Na questão 1.3 foi seleccionada uma tabela de composição da água do mar que, descontextualizada, não faz muito sentido uma vez que em soluções com sais dissolvidos, o que existe são iões (sem etiqueta) pelo que não fará muito sentido dizer que se tem NaCl e Na2SO4, por exemplo. Por outro lado, mesmo esquecendo essa questão, como a tabela apresenta os componentes maioritários, nada garante que no somatório dos minoritários não apareça sódio em quantidade suficiente para inverter o balanço feito para os maioritários (balanço esse que leva à resposta B na Versão 1 da prova).
Na subquestão 1.3.2, também nos parece pouco linear a maneira como é apresentado o cálculo da concentração do ião sulfato:
"0,02856 x 98,07 x 10^6/10^3 ppm" em vez de "0,02856 x 98,07 x 10^3 ppm" que é um resultado final independente do tipo de raciocínio que se faz para lá chegar...

Mas, na nossa opinião, a questão mais polémica surge na questão 4.1:
“Algumas das transições electrónicas assinaladas na figura 4 estão relacionadas com as riscas de cor que se observam no espectro de emissão do hidrogénio abaixo representado. Seleccione a única alternativa que refere a transição electrónica que corresponde à risca vermelha do espectro de emissão do hidrogénio.”
Há vários problemas associados a este enunciado: alguns têm a ver com o aspecto gráfico outras com o texto.
Comecemos pelo aspecto gráfico: em lugares menos iluminados, mal se percebem as riscas violeta. Um espectro sem abcissas (energias, frequências, números de onda, comprimentos de onda) é algo que, descontextualizado, não faz sentido e é deseducativo publicá-lo. Após alguma análise, percebe-se, então que, supostamente estamos em face de um material que é sensível à radiação electromagnética (REm) e que a cor que desenvolve, em fundo preto, é a cor associada à radiação. Assim, supostamente, a risca vermelha seria não “uma risca pintada de vermelho” na representação do espectro mas “uma risca vermelha do espectro visível” da REm e o mesmo seria válido para a azul e as violetas. Mas, como explicar, então a existência de riscas brancas na zona de menores energias (Infravermelho?) e as de maior energia (Ultra-Violeta?), fora da zona visível? Será que o texto ajuda a interpretação?
Passemos ao texto: quando se lê “riscas de cor”, quantas pessoas interpretarão isto como sendo “riscas na gama visível do espectro da radiação electromagnética”? E quantas interpretarão isto como as riscas que na representação abaixo estão pintadas de cor (por oposição às de “cor” branca)?
A chamada de atenção que aqui fica prende-se exclusivamente com a falta de rigor que atravessa a questão e com consequências formativas graves. Não consideramos, no entanto, que ela tenha consequências a nível de resultados pois as alternativas de resposta continham duas respostas claramente erradas (B e D na versão 1) por corresponderem a absorções de energia e não a emissões, e de entre as transições que correspondem a emissões, vários raciocínios possíveis, uns mais qualitativos, outros mais quantitativos, levavam sempre à conclusão de que a resposta considerada certa seria a transição Z (resposta A na Versão 1). No entanto, chama-se a atenção para o facto de o aluno não poder calcular o comprimento de onda correspondente à transição X e portanto optar pela Z por exclusão de partes. Por outro lado, qualquer das vias, quantitativa ou qualitativa, obrigaria o aluno, após ter decifrado o texto, a saber de cor (leia-se “cór”) a composição do espectro visível da REm. É, no mínimo, estranho dada a composição do Formulário que contém informações bem mais básicas do que esta.


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Publicado/editado: 12/07/2009